Homenagem a Sérgio Murilo

CÂMARA DOS DEPUTADOS
Orador: ANDRÉ DE PAULA
Data: 24/02/2010

Homenagem a Sérgio Murilo

Senhor Presidente,
Senhoras e Senhores Deputados,

Ocupo, consternado, esta Tribuna, para fazer um breve registro. Desde a semana passada, o Estado de Pernambuco está mais pobre; perdeu um dos seus mais respeitados quadros políticos. Com enorme pesar, faço constar nos anais desta Casa o falecimento do ex-deputado federal por três mandatos consecutivos, o pernambucano e advogado criminalista Sérgio Murilo Santa Cruz Silva, ou apenas, Sérgio Murilo, como ficou conhecido em nosso Estado e no Congresso Nacional.

Sérgio Murilo nasceu na cidade de Carpina-PE, no ano de 1931. Filho do médico Murilo Sérgio da Silva e de Maria das Dores Santa Cruz Silva, era formado em Direito pela tradicional Faculdade de Direito do Recife, e doutor pela Faculdade de Decrecho de la Universidad de Madrid.

Era advogado criminalista conceituadíssimo. Atuou em casos de grande repercussão em nosso Estado. No currículo, mais de mil júris populares, centenas de desquites, milhares de ações.

Descobriu, sem dúvida, na atuação dos tribunais, sua vocação irrecusável para política, tendo sido deputado estadual por duas vezes e deputado federal em três legislaturas consecutivas.

Homem de convicções, enfrentou, com coragem cívica, o regime militar. Em 1964, quando exercia a chefia do gabinete do ministro da Agricultura no Governo João Goulart, foi uma das primeiras vítimas do regime. O discurso contundente pronunciado contra o regime de exceção que se implantava no País, logo no primeiro dia de exercício como deputado estadual, resultou na cassação do seu mandato e na prisão realizada pelas forças do Exército, no próprio edifício da Assembléia Legislativa. Teve seus direitos políticos suspensos por dez anos.

Ficou preso por mais de cinco meses, dividindo cela, durante um período, com Francisco Julião, de quem se tornou amigo e ao lado de quem veio a fundar o Partido Democrático Trabalhista (PDT).

Sérgio Murilo foi libertado, mas, por diversas vezes, ao longo do tempo, por períodos curtos, sempre sob a alegação de “investigação” e “averiguação”, voltava a ser detido. Mesmo com os direitos políticos suspensos, exerceu com desataque a advocacia e atuou em favor de inúmeros presos políticos. Mesmo sob forte pressão, continuou a luta pela redemocratização do País e pelo restabelecimento do Estado de Direito.

Nesta Casa, senhor presidente, Sérgio Murilo protagonizou momentos históricos da vida nacional. Junto com Tancredo Neves, Thales Ramalho, Marcos Freire, entre outros notáveis do antigo MDB, integrou a chamada Aliança Democrática, cujo objetivo era a eleição de Tancredo a presidente da República e a redemocratização do País.

Foi vice-líder do partido na Câmara dos Deputados, e mercê de suas qualidades, já no seu primeiro mandato como deputado federal, em 1975, foi eleito pelo jornal Correio Braziliense como um dos dez deputados mais atuantes daquele ano. Também em 1975, esteve à frente do movimento parlamentar que pediu anistia de Juscelino Kubitschek.

Foi reeleito deputado federal em 1978 e 1982, exercendo o mandato até janeiro de 1987, quando abandonou a vida pública.

Em 1985, pela Aliança Democrática, foi candidato do PMDB à Prefeitura Municipal do Recife, tendo perdido a eleição, por pequena diferença, para o atual senador Jarbas Vasconcelos.

Vítima do “Mal de Parkinson” e, posteriormente, “Mal de Alzheimer”- talvez sequelas tardias das privações do cárcere e das perseguições -, seu desaparecimento, aos 78 anos de idade, é motivo de grande tristeza em nosso Estado.

Ao concluir, senhor presidente, associo-me ao sentimento de pesar que toma todos os seus familiares e amigos, nesta hora de dor e tristeza. Peço que sejam transmitidas à família as nossas condolências, especialmente aos seus quatro filhos, Murilo Sérgio, servidor desta Casa, Sérgio Murilo Junior, Christianne e Sergiorlando Santa Cruz.

Atuante na política e na advocacia. Venceu nas urnas e nos tribunais. Sérgio Murilo se despede da vida, deixando saudade e, sobretudo, o exemplo de coerência, correção e coragem.


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